quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Faz tempo que não compreendo nada

O anjo aproximou-se e me disse palavras que não comprendi. Faz tempo que não compreendo as palavras. O anjo então chegou mais perto e tentou conversar com gestos. Faz tempo que não comprendo acenos. O anjo então abriu a janela e o tempo passou diante de mim, como um relógio que se quebra para sempre e leva nos seus ponteiros as coisas que passaram, como se fosse assim viver a possibilidade da vida. O anjo então abriu a porta da casa e entraram as ovelhas que passeavam no campo. O anjo então saiu e trouxe algumas flores silvestres para o vaso de porcelana da sala que não existia. E na parede um relógio batia os minutos, um atrás do outro, um atrás do outro, um atrás do outro, todos os minutos escondidos nas engrenagens delicadas de ouro. Depois o anjo partiu deixando uma carta que vou ler amanhã.




Robson Silva.

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